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Ex-ministro Marco Aurélio Mello afirma que “nem na ditadura houve tanto abuso”

O ex-ministro Marco Aurélio Mello não passou despercebido. Ao afirmar que “nem na ditadura houve tanto abuso”, ele colocou luz sobre um problema que o Brasil já não consegue esconder. A escalada de perseguições, restrições de fala e decisões judiciais cada vez mais amplas revela um país onde o simples ato de discordar pode custar investigações, processos e até prisões. Marco Aurélio, que fez parte do STF por décadas e sempre foi conhecido pela defesa intransigente das liberdades individuais, não fala como um opositor político, mas como alguém que testemunhou, por dentro, o funcionamento da Corte e entende o peso das instituições.

O que impressiona é que a crítica não veio de um comentarista, de um analista ou de um político inflamado, mas de um magistrado de carreira que construiu sua reputação como garantista, defensor do devido processo legal e do equilíbrio entre poderes. Quando alguém com esse perfil diz que o país vive um ambiente de intimidação maior do que o experimentado em um período reconhecido como autoritário, a sociedade tem a obrigação de ouvir. O Judiciário, que deveria ser o respiro institucional, se tornou palco de disputas políticas, decisões monocráticas intermináveis e interpretações elásticas da Constituição que concentram poder em poucas mãos.

Para além do alerta jurídico, o que está em jogo é o futuro da própria democracia. Um país em que opiniões geram processos, em que investigações são abertas com base em interpretações subjetivas e em que críticas ao governo viram justificativa para acusações, perde as bases que sustentam a liberdade. A democracia não é medida pelo discurso oficial, mas pela capacidade do cidadão comum de falar sem medo. E quando um ex-ministro do STF reconhece que o medo cresceu a ponto de superar décadas passadas, é porque o problema deixou de ser exceção e virou regra.

Marco Aurélio expôs o que muitos já sentiam, mas poucos tinham coragem de verbalizar. O Brasil atravessa um momento em que o poder se move sem limites claros, onde a Justiça é usada como escudo político e onde os freios institucionais se afrouxaram de forma perigosa. A pergunta que ele deixa no ar é simples e grave: se a democracia é realmente sólida, por que até opiniões viraram alvo de punição? O país precisa decidir se aceita esse caminho ou se reage antes que seja tarde demais.

Blog do Araújo Neto