Brasil

Um roteiro pela paradisíaca Fernando de Noronha, de praias até onde comer

Praias intocadas, água azul turquesa e uma riqueza imensurável de vida marinha são algumas das maravilhas que podemos encontrar em Fernando de Noronha. Mas não para por aí: o arquipélago é um resumo do Brasil em forma de poesia, com cenários que não cabem em palavras e momentos de silêncio quebrados pelo som do vento e do mar.

Para mim, é um refúgio tanto de espécies quanto de sentimentos. É sobre chegar e não querer voltar para casa. Patrimônio Natural Mundial da Unesco, Noronha não é um paraíso somente para viajantes, mas também para diversas espécies, como tubarões, tartarugas e aves tropicais, que podem ser vistas aqui de pertinho.

O destino é mais que especial, já que serviu como protagonista do encerramento da 10ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia. Com o tempo, virou um dos destinos mais desejados do Brasil e a boa notícia é que novidades sempre estão à caminho. Novos restaurantes, bares e agitos gastronômicos têm feito de Noronha um local que surpreende em torno da boa mesa.

Eu já visitei o arquipélago pernambucano algumas vezes, mas sempre descubro um cantinho ou um programa novo. Visitar um lugar várias vezes é estar aberto a experiências inéditas, e Noronha tem cumprido a missão. Aqui, o combo perfeito é navegar pelo marmergulharvisitar as mais diferentes praias e apreciar sabores frescos e inigualáveis. No fim do dia, o pôr do sol nos lembra por que o destino é considerado um paraíso nacional.

A seguir, compartilho um punhado de dicas para enriquecer sua viagem, com atividades em mar e em terra firme, além de nomear alguns dos melhores bares e restaurantes que valem a jornada.

Atividades na água: mergulho e praias

Mergulhos e banhos de mar são atividades no topo da lista em Noronha • CNN Viagem & Gastronomia
Mergulhos e banhos de mar são atividades no topo da lista em Noronha • CNN Viagem & Gastronomia

Um dia feliz em Fernando de Noronha deve ser coroado com um mergulho. Isso porque as belezas naturais do arquipélago não ficam restritas somente à superfície: na verdade, um mundo aquático cheio de surpresas se revela quando mergulhamos de cilindro.

No caminho, é comum que golfinhos-rotadores fiquem próximos da embarcação, dando um show de pulos e giros. É um sinal de que a aventura está começando.

Um dos principais pontos para mergulhos em Noronha é a Caverna da Sapata. Lá embaixo, a cerca de 20 metros debaixo d’água, é de arrepiar ver a boca da caverna e testemunhar a imensidão azul – se der sorte, é possível ver algum tubarão-lixa descansado pelo caminho.

Um outro ponto igualmente fantástico para mergulhos é a Praia do Porto de Santo Antônio, onde naufrágios se transformaram em um recife artificial, com uma grande concentração de vida marinha, como tartarugas, tubarões e inúmeros peixes. É lindo ver como as espécies se apossaram do local e deram, literalmente, uma nova vida à ele.

Por falar em praia, a ilha possui várias delas, desde as mais escondidas até as mais populares. Elas podem fazer parte de um tour de um dia, sendo o mais indicado desbravar a ilha a bordo de um buggy. As praias mais famosas – e que valem a visita – são:

  • Praia do Leão
  • Praia do Sueste
  • Cacimba do Padre
  • Praia do Boldró
  • Praia da Conceição
  • Baía dos Porcos
  • Praia do Atalaia
  • Praia do Sancho

Um dos destaques é justamente a Praia do Sancho, eleita várias vezes uma das mais bonitas do mundo. A cor hipnotizante do mar junto das falésias e dos paredões de pedra resulta em uma paisagem que nunca cansa a vista.

Praia do Sancho está constantemente em listas das praias mais bonitas do mundo • CNN Viagem & Gastronomia
Praia do Sancho está constantemente em listas das praias mais bonitas do mundo • CNN Viagem & Gastronomia

Mas atenção: como tudo em Noronha é organizado e programado, há horários de subida e descida para a praia, que faz parte do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, controlado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

São cerca de 200 degraus no meio de uma fenda que nos levam para as areias. Todo o esforço é recompensado pelo espetáculo da natureza. Durante o passeio, minha dica é não deixar de ir no Mirante dos Dois Irmãos, que possui uma vista incomparável para o cartão-postal de Noronha.

Ainda com relação aos passeios que envolvem água, uma viagem a Fernando de Noronha não fica completa sem uma volta a bordo de uma embarcação. Uma novidade fresquinha, e personalizada, é a saída com o Albatroz, um iate de 50 pés que faz paradinhas estratégicas ao redor do arquipélago com um menu de comidinhas de dar água na boca.

Entre os pontos visitados, parei no Rugido do Leão, onde o impacto das ondas junto do formato das pedras faz com que um som semelhante a um rugido seja produzido naturalmente. Durante o caminho, peixes fresquíssimos são servidos em pratos bem elaborados. No fim do passeio, o banho de mar é mais do que merecido.

Atividades em terra: museu, mirante e conscientização

Museu dos Tubarões tem entrada gratuita, sendo ótima forma de conhecer sobre as espécies que vivem em Noronha • CNN Viagem & Gastronomia
Museu dos Tubarões tem entrada gratuita, sendo ótima forma de conhecer sobre as espécies que vivem em Noronha • CNN Viagem & Gastronomia

Entre os moradores locais, os tubarões são uma das espécies que chamam Noronha de lar. Para entendermos melhor seus hábitos, indico uma visita no Museu dos Tubarõestotalmente gratuito e dotado de fósseis e réplicas.

“O oceano é um ambiente sem cerca. Das mais de 400 espécies de tubarões existentes, 16 frequentam Noronha. Não são demônios, mas também não são bichinhos de pelúcia. São animais selvagens que conseguimos conviver, respeitando o espaço deles”, diz Léo Veras, curador do museu. Além do tubarão-lixa, descobrimos, por exemplo, que o tubarão-limão e o tubarão-dos-recifes são espécies encontradas por aqui.

O bacana é que o museu também se transforma à noite, já que a área externa com bar e restaurante tem recebido o Festival da Lua Cheia, com shows e gastronomia em celebração ao nascer da lua. As vistas são de arrepiar e, no fim, o brilho da lua deixa a atmosfera ainda mais mágica.

Outras experiências que enriquecem a jornada em Fernando de Noronha têm a ver com conservação e preservação das espécies, palavras-chave no arquipélago. Vale conhecer o trabalho do Projeto Tamar, que atua na proteção e no cuidado de tartarugas marinhas, especialmente durante a incubação e a desova nas praias. Visitar e acompanhar de perto esse trabalho é uma forma de apoiarmos diretamente a conservação.

Praia do Atalaia é como berçário de diferentes espécies e fica aberta para visitação em determinados períodos • CNN Viagem & Gastronomia
Praia do Atalaia é como berçário de diferentes espécies e fica aberta para visitação em determinados períodos • CNN Viagem & Gastronomia

Outra experiência que reflete esse cuidado é conhecer a Praia do Atalaia, parte do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e acessível apenas por trilhas controladas pelo ICMBio, com número limitado de visitantes por dia e regras rigorosas para proteger a fauna e a flora locais. Estar com um guia aqui, especialmente alguém diretamente ligado ao instituto, dá um tom especial à visita.

A água é extremamente transparente, com altíssima visibilidade, nos revelando desde tubarões-lixa, polvos, moreias, cardumes coloridos até pequenos crustáceos. É importante ficar atenta aos dias de abertura da trilha, já que a praia fica fechada em certos períodos do ano em função do assoreamento e das marés.

Onde comer em Fernando de Noronha

Peixe na brasa do Benedita Cozinha, que foca em peixes e frutos do mar dos arredores • Menu Studio
Peixe na brasa do Benedita Cozinha, que foca em peixes e frutos do mar dos arredores • Menu Studio

A culinária pernambucana, praiana e autoral ganha as mesas de Fernando de Noronha e faz com que a gastronomia vire um dos atrativos mais deliciosos do arquipélago. O Benedita Cozinha é desses restaurantes que colocam Noronha no mapa.

Situada na entrada da Vila dos Remédios, a casa é liderada pelo chef Dário Costa, que a batizou em homenagem à avó. A especialidade é o peixe na brasa, mas pescados também são servidos de diversas maneiras. “A sardinha é um caso interessante. Elas atraem tubarões para perto da praia e os próprios pescadores só as usam para pescar, ninguém as come. Então coloquei-as no menu”, conta Dário, que incrementa a focaccia da casa com conserva de sardinha da ilha.

O restaurante Cacimba é um dos mais tradicionais, mas quem também se destaca é a Casa do Auri, que ocupa a casa do chef Auricélio Romão. São pratos que evocam memórias, todas com muito sabor. Uma das pedidas pode ser o “do mar ao sertão”, encontro de frutos do mar com carne de sol envolvida em um arroz cremoso. A farofa que acompanha faz toda a mágica acontecer.

Varanda Noronha também merece ser incluído na programação. Existe há mais de 15 anos, comandado pela chef Jaqueline Dantas, que nos serve um mix do Nordeste com frutos do mar, carne de sol, queijo coalho e uma bela cocada para fechar a noite.

Outra cozinha que vale a pena se aventurar é a da Mesa da Ana, restaurante de apenas uma mesa com 12 lugares. Aqui, somos servidos por Ana Jabur, chef que estudou na França, e por Rock Lima, artista plástico. O resultado? Um dos melhores restaurantes da ilha, que se intitula como “franco neo noronhense”.

Bar e restaurante do Mirante do Boldró é opção para um pôr do sol caprichado • CNN Viagem & Gastronomia
Bar e restaurante do Mirante do Boldró é opção para um pôr do sol caprichado • CNN Viagem & Gastronomia

“A ideia de fazer um menu surpresa foi justamente para driblar a logística da ilha, que é muito difícil”, diz Ana. Se quiser spoilers, o cardápio que ela me serviu tinha desde crudo de cavala servido com molho de tangerina levemente apimentado e ovas de peixe voador até linguine com camarão salteado na manteiga, bottarga e crocante de alho poró.

Outra atividade obrigatória na ilha é assistir ao pôr do sol, que já é um espetáculo por si só com uma  paleta de cores que beira o extraordinário. E que tal aliar o programa com uma ida a um bar, com comidinhas e drinques em mãos? Confira uma listinha de bares para ver o pôr do sol em Noronha:

  • Bar do Meio: um dos locais mais emblemáticos da ilha, com vista bastante privilegiada;
  • Bar do Cachorro: enquanto o sol se põe, um show de saxofone embala o momento;
  • Mirante do Boldró: é insuperável e meu favorito. Conta com novo bar e restaurante contemporâneos, perfeito para garfadas e goles caprichados.

Raio-X de Fernando de Noronha

Percorrer a ilha a bordo de buggy é uma das melhores formas de conhecer diferentes pontos turísticos e praias • CNN Viagem & Gastronomia
Percorrer a ilha a bordo de buggy é uma das melhores formas de conhecer diferentes pontos turísticos e praias • CNN Viagem & Gastronomia

Onde fica?

Fernando de Noronha é um arquipélago vulcânico no Atlântico pertencente ao estado de Pernambuco. Fica a cerca de 545 quilômetros de Recife.

Como chegar?

O acesso a Fernando de Noronha é feito exclusivamente por meio aéreo, com voos regulares saindo de Recife e Natal. Atualmente, também há voos diretos saindo do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

Quanto é a taxa de visitação?

São duas taxas diferentes pagas por todos os visitantes que chegam à ilha. Uma é a Taxa de Preservação Ambiental (TPA). Ela é obrigatória para todos que permanecem na ilha e o preço final varia de acordo com o número de dias da estadia. Em 2025, o valor da taxa começa em R$ 101,33.

Há também o ingresso do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, que abrange cerca de 70% do arquipélago. Com validade de 10 dias, o ingresso sai por R$ 186,50 para brasileiros, sendo que estrangeiros pagam R$ 373. Fazem parte do parque locais como a Praia do Sancho, a Baía dos Porcos, a Baía do Sueste, a Praia do Leão e do Atalaia e a Baía dos Golfinhos.

E atenção: locais como Cacimba do Padre, Praia do Boldró, Praia da Conceição, Praia do Cachorro e Porto de Santo Antônio não necessitam do ingresso para a visita.

Qual a melhor época do ano para visitar?

As temperaturas são elevadas ao longo do ano, mas as estações são divididas em seca e chuvosa.

Para encontrar um mar mais calmo e dias bons para mergulho, o período entre os meses de agosto e outubro é indicado, com boa visibilidade e águas tranquilas. A chuva dá as caras mais comumente entre abril e julho.

Vale a pena?

Muita gente compara o custo de viajar no Brasil e acaba preferindo partir para o exterior. Minha dica é: dê uma chance e conheça Fernando de Noronha – ou, caso já tenha ido, desfrute de sua beleza de uma forma diferente. O destino facilmente bate outras praias ao redor do mundo de tanta beleza. E o melhor: é um patrimônio que podemos chamar de nosso.

Blog do Araújo Neto