Segundo uma análise divulgada pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) nesta terça-feira (27), São Paulo teve entre os dias 22 e 24 de agosto 2.600 focos de calor, sendo que 81,29% deles foram em locais usados pela indústria agropecuária, como áreas de pastagem ou plantação de cana-de-açúcar.
De acordo com o levantamento, em áreas de produção, o maior número de focos ocorreu em plantações de cana-de-açúcar, com 1.200 registros. Também foram contabilizados focos nos chamados mosaicos de usos (áreas agropecuárias, nas quais não é possível a distinção entre pasto e agricultura), com 524; em pastagens, com 247; e em áreas de cultivo de árvores, café, soja e outras lavouras, com 195.
Além disso, a vegetação nativa incendiada somou 440 focos de calor, o que representa 16,77% de todas as ocorrências registradas dos dias 22 a 24 de agosto.
O levantamento foi feito com imagens de um satélite, que fez registros duas vezes por dia no intervalo analisado. A análise constatou que, apenas na última sexta-feira (23), houve mais focos de calor em São Paulo do que toda a área da Amazônia: naquele dia, entre as duas passagens do satélite, os focos de incêndio subiram de 25 para 1.886.
Outro equipamento usado para a análise foi um satélite que fez imagens a cada dez minutos para monitorar o nível de fumaça. O aparelho constatou que, também no dia 23, as colunas de fumaça no estado surgiram em intervalo de 90 minutos, entre 10h30 e 12h.
A diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, explica que não é natural surgirem tantos focos de calor em um curto período em uma região como São Paulo. “É como se fosse um Dia do Fogo exclusivo para a realidade do estado, evidenciado pela cortina de fumaça simultânea que surge visualmente a oeste”, diz.
“Seja uma ação orquestrada ou não, é urgente reduzir o uso do fogo no manejo agropecuário, e ser muito responsável no controle do fogo quando ele estiver sendo utilizado. O uso indiscriminado e irresponsável do fogo pode causar danos não só ao meio ambiente, mas também à propriedade e à vida das pessoas que, mesmo distantes, recebem o impacto da fumaça”, completa.
Para o analista de pesquisa do IPAM, Wallace Silva, os dados mostram que as principais áreas de incêndio foram as que já estavam em uso, ou seja, desmatadas. “Podemos concluir que, se o fogo atingiu uma área de vegetação nativa, isso ocorreu porque ele escapou do local onde teve início”, explica.
*Sob supervisão de Augusto Fernandes
Fonte: R7