Uma ex-juíza brasileira discursou em evento conservador nos Estados Unidos chamando a abolição da democracia de “migué jurídico” e dando dicas para os golpistas. Ludmila Lins Grilo, magistrada aposentada compulsoriamente que atualmente responde a três processos administrativos disciplinares (PADs) no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), sugeriu que novas manifestações não sejam realizadas em Brasília, mas em São Paulo: “Na Avenida Paulista não tem Praça dos Três Poderes para você ser acusado de golpe de Estado”.
As declarações aconteceram no evento Congresso Conservador Brasileiro, no último fim de semana, em Massachusetts, nos Estados Unidos. “Na Avenida Paulista é infinitamente mais seguro você fazer uma manifestação política do que em Brasília. […] A gente tem que fazer na Paulista mesmo. Lá não tem STF, lá não tem Palácio do Planalto. Lá ninguém vai poder te acusar de golpe de Estado, de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, que é um ‘migué jurídico’, né?”, disse.
Além de Ludmila, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também discursou, de forma virtual, afirmando que “quem não está de acordo com as pautas da esquerda tem a sua vida bastante prejudicada”. Ele citou como exemplo o ex-preparador físico da Seleção Brasileira de Basquete Feminino Diego Falcão, que causou polêmica ao apoiar publicamente o projeto de lei que equipara aborto acima de 22 semanas ao crime de homicídio. Ele acabou dispensado do cargo.
Ainda estiveram presentes nomes como o blogueiro foragido Allan dos Santos, o ex-deputado federal Major Vitor Hugo, do PL de Goiás, e advogados de pessoas que estão respondendo aos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro. Os profissionais do direito reclamaram das condições relativas aos direitos humanos dos detidos na Papuda e Colmeia, penitenciárias do Distrito Federal. Os discursos foram feitos para um auditório pequeno e esvaziado.
Quem é Ludmila Grilo
Ludmila Lins Grilo fazia parte da Vara Criminal e da Infância e Juventude de Unaí (MG), mas acabou punida com aposentadoria compulsória pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) em maio de 2023. Ela já havia viralizado com outra “dica” polêmica, em janeiro de 2021, quando postou vídeo ensinando as pessoas a andarem sem máscara em shoppings, o que era proibido na época para conter o avanço do vírus da Covid-19, que matou centenas de milhares de brasileiros. Ludmila ainda postou a hashtag “Aglomera Brasil”.
Em fevereiro daquele ano, ela já havia sido afastada de forma cautelar após o CNJ abrir processos administrativos disciplinares contra ela. Um deles investiga a magistrada por promover, nas redes sociais e durante entrevistas, críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma das publicações, ela compartilhou um texto intitulado “Os perseguidores-gerais da República”, acompanhado de fotos dos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
Ainda nas redes sociais, Ludmila menosprezou o posto que ocupava, referindo-se a ele como “carguinho”, criticou o inquérito das fake news e uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná que determinou busca e apreensão contra um candidato ao Senado Federal, investigado por irregularidades durante a campanha.
Em outro post a juíza divulgou o link do canal do blogueiro Allan dos Santos, de quem se diz “amiga pessoal”. A conta foi criada após o Supremo determinar a prisão do blogueiro e bloquear suas contas nas redes. A conduta, segundo a decisão, pode configurar “tentativa de auxílio a pessoa investigada”.
O processo também investiga a participação de Ludmila em um congresso ao lado de influenciadores e parlamentares conservadores. O evento foi considerado de cunho político, o que é proibido pelo Código de Ética da magistratura.
Há ainda um outro processo que apura a recusa de Ludmila em voltar ao trabalho presencial sem autorização. Uma inspeção identificou diversas faltas ao trabalho, baixa produtividade e uma série de irregularidades em sua atuação. Foram identificados 1.291 processos paralisados no cartório.
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