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Atores interpretam médicos em vídeos roteirizados para vender produtos que prometem resultados milagrosos



O site com a entrevista dos dois atores foi retirado do ar pelo Google apenas quando as fontes foram procuradas pela imprensa -  (crédito: Reprodução)
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O site com a entrevista dos dois atores foi retirado do ar pelo Google apenas quando as fontes foram procuradas pela imprensa - (crédito: Reprodução)

Atores e atrizes interpretam médicos em vídeos roteirizados na internet para vender produtos que prometem resultados milagrosos. Em nenhum momento é esclarecido ao espectador de que se trata de uma encenação.

As produções foram condenadas pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), que acionou o Ministério Público e a Polícia Civil nesta quinta-feira (18/7) pedindo "providências urgentes" acerca da veiculação dos vídeos.

"Nas publicações, não há nenhum indicativo de que a pessoa que está participando do anúncio é ator ou atriz. Em algumas delas, inclusive, os atores se apresentam com nome e CRM de médicos verdadeiros, o que pode configurar crime de falsidade ideológica", afirma o Conselho em nota enviada ao Correio.

Os atores que participaram da encenação foram contratados para interpretar personagens fictícios criados para fins publicitários. Depoimentos como especialistas e pacientes fictícios chegam a ser vendidos a R$ 20 em um site.

Um dos vídeos era uma entrevista no suposto programa Saúde em Foco, em que a apresentadora Vanessa Amorim conversava por mais de uma hora com o "endocrinologista renomado" Ricardo Bruno.

Com infográficos, imagens feitas em estúdio e jaleco bordado com o nome do "profissional", a gravação mostrava o depoimento falso do médico sobre uma bactéria que "acumula gordura corporal enquanto você dorme".

Após quase uma hora de bate-papo, o suposto profissional fazia propaganda de um produto que prometia ajudar a emagrecer, o Night Slim — que teria sido criado devido à luta da esposa para emagrecer. O preço do produto varia de R$ 18 a R$ 62 por uma embalagem com 60 cápsulas.

Ao Correio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse que não há nenhum medicamento registrado na Anvisa com o nome Night Slim e que, portanto, "não se trata de medicamento autorizado para nenhuma indicação terapêutica". 

O registro profissional do médico citado no site com o vídeo (que agora está fora do ar) é de Ricardo Vasconcellos Bruno, ginecologista do Rio de Janeiro.

O suposto médico da gravação é interpretado pelo ator Sidnei Oliveira. Ao portal g1, ele relatou que foi contratado como ator para "interpretar um personagem simples", mas que deixou o trabalho em seguida.

"Eu não faço mais parte. Portanto, não estarei mais nos vídeos e acredito que me citar na reportagem será em vão, pois minhas cenas estão sendo retiradas." Ele alegou ainda que não sabia que as imagens eram usadas para a venda de produtos.

Correio não conseguiu contato com Sidnei Oliveira. O espaço está aberto para manifestações.

Quem fazia o papel da entrevistadora Vanessa Amorim era a atriz Fernanda Padilha. Ela também aparece em conteúdos como farmacêutica e médica, ao sugerir um pó para uma visão saudável, o "VisiControl", e também um produto para mulheres na menopausa, "Alívio360".

A atriz afirmou ao g1 que um contratante disse que "pessoas estão roubando as imagens" e trocando o texto gravado por meio de ferramentas de sincronia labial. O Correio entrou em contato com Fernanda em busca de seu posicionamento. Em caso de respostas, a matéria será atualizada.

Representantes dos produtos

Ao g1, o representante da Night Slim disse que Feranda não representou nenhum papel de médica. Por sua vez, o advogado que representa a VisiControl alegou que o vídeo da oferta conta com avisos para informar o consumidor que se trata de uma história fictícia.

"Em nenhum momento a atriz foi mencionada ou retratada como médica, sendo sua atuação meramente ilustrativa e com fins publicitários", afirmou o advogado.

Correio entrou em contato com o representante da Night Slim em busca de um posicionamento, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.

As páginas nas redes sociais e sites da Alívio 360 e VisiControl foram removidos, e o Correio não conseguiu localizar seus representantes.

O site com a entrevista dos dois atores foi retirado do ar pelo Google apenas quando as fontes foram procuradas pela imprensa.

Ao Correio, a plataforma informou que têm políticas rígidas que restringem anúncios de saúde e medicamentos que não estejam de acordo com normas e regulamentações locais. "Quando identificamos uma violação de nossas políticas, agimos imediatamente suspendendo o anúncio e, se for o caso, bloqueando a conta do anunciante. [..] Se algum consumidor suspeitar ou for vítima de golpe, oferecemos uma ferramenta para denunciar violações de nossas políticas."

Denúncia

O Conselho de Medicina de São Paulo considera práticas como essa "graves e perigosas, e prejudicam a população e a própria classe médica".

"O Conselho reforça também a importância do uso do Guia Médico, disponível no site do Cremesp, que permite checar, pelo nome ou crm, se o profissional é realmente médico e se possui especialidade registrada. Por fim, caso o médico identifique que seus dados estão sendo utilizados por terceiros, o Cremesp recomenda que o profissional comunique o Conselho Regional de Medicina e faça boletim de ocorrência", finaliza a organização.

Ao Correio, o Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária (Conar) afirmou que o uso de testemunhais falsos é rechaçado pela legislação e pelas regras éticas do Conar. "No caso de testemunhais de especialistas e/ou autoridades, há peso e gravidade ainda maiores, acerca da possível irregularidade", acrescentou o Conselho. Leia a nota na íntegra a seguir:

"O uso de testemunhais falsos é rechaçado pela legislação e pelas regras éticas do Conar. No caso de testemunhais de especialistas e/ou autoridades, há peso e gravidade ainda maiores, acerca da possível irregularidade. Os testemunhais falsos, inclusive, têm sido um dos indicativos de publicidade flagrantemente irregular. Os suplementos integram o gênero alimentício. Não podem prometer cura ou benefícios diretos à saúde. A partir da pandemia, verificou-se uma tendência maior de apelos irregulares na publicidade do segmento, com as promessas enganosas de cura. Diversos processos foram instaurados no Conar, versando sobre tais apelos enganosos."


Fonte: G1