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Banco Central interrompe ciclo de cortes dos juros e mantém Selic em 10,5% ao ano



Após sete cortes consecutivos, Copom manteve Selic em 10,5% ao ano(JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL)








Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu interromper nesta quarta-feira (19) o ciclo de cortes da taxa básica de juros iniciado em agosto do ano passado e manteve a Selic em 10,5% ao ano. A decisão unânime veio alinhada às expectativas do mercado, que esperava a manutenção da taxa, devido aos juros nos Estados Unidos, à inflação e ao aumento da percepção de risco fiscal no Brasil.

Na última reunião, no início de maio, o Copom reduziu a taxa pela sétima vez consecutiva, para 10,5% ao ano. Entretanto, a velocidade dos cortes diminuiu. De agosto de 2023 a março de 2024, o comitê reduziu, a cada reunião, os juros básicos em 0,5 ponto percentual. Já na reunião de maio, a redução foi de 0,25 ponto percentual.

A decisão do Copom ocorre um dia após as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em entrevista a uma rádio, o petista afirmou que o presidente do BC não demonstra “autonomia”, tem “lado político” e trabalha para “prejudicar” o país.

“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou.

Lula disse, também, que “o Brasil não pode continuar com a taxa de juros proibitiva de investimentos no setor produtivo”. “Como vai convencer um empresário de fazer investimento se ele tem que pagar uma taxa de juros absurda? Então é preciso abaixar a taxa de juros, compatível com a inflação. A inflação está totalmente controlada. E [é preciso] que o Banco Central se comporte na perspectiva de ajudar esse país, e não atrapalhar o crescimento do país”, acrescentou.

A estimativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano aumenta desde abril, se afastando da meta estipulada de 3%. O índice acelerou pelo segundo mês seguido, atingindo 0,46% em maio, com acumulado de 3,93% nos últimos 12 meses. A projeção do Copom é de que o índice fique em 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025.

Por outro lado, a previsão de inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 4,0% em 2025. O comitê traça um cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante. Nesse caso, as projeções ficam em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025.

“É razoável afirmar que as incertezas domésticas citadas nas comunicações mais recentes do comitê se mantiveram em patamar elevado, ou mesmo aumentaram, em particular no que diz respeito à percepção sobre riscos de mudanças nos principais parâmetros do arcabouço fiscal aprovado no ano passado”, avalia Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em relatório na última semana.

Para o mercado financeiro, a Selic deve encerrar 2024 em 10,5% ao ano. Para o fim de 2025, a estimativa é de que a taxa básica caia para 9,50% ao ano. Para 2026 e 2027, a previsão é que ela seja reduzida novamente, para 9% ao ano.

Histórico recente

De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, em um ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto de 2022 a agosto de 2023, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano, por sete vezes seguidas. Com o controle dos preços, o BC passou a realizar os cortes na Selic.

Entenda a Selic

A taxa básica de juros é uma forma de piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela serve como o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.

Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando os juros básicos são reduzidos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.

A Selic é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.

É a taxa Selic que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo em empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram dos consumidores são sempre superiores à Selic.

Fonte: r7